Escutar-se
- Livia Diniz

- 23 de fev. de 2024
- 1 min de leitura
Atualizado: 23 de fev. de 2024
Ir ao analista é necessitar de uma escuta e diante disso nos deparamos com o avesso deste ato: nossa própria escuta, aquela que evocamos.
Uma análise tem o poder de modificar como nos escutamos e faz pensar também como não nos escutamos.
Quais ecos ressoam da pele pra dentro quando falamos ou silenciamos sobre o que é nosso? Que coisa é essa que nos coloca a falar ou nos escutar, e a partir disso, construir um lugar de travessia dos pedaços que restam ou dos meio que soltos e agarrados às nossas próprias fantasias?
O que há nos ditos-não-ditos-dos-interditos, na sustentação da própria fala, da própria escuta e do próprio silêncio?
Fal-ar, esco-ar e se escut-ar é poder tomar um pouco de ar... tomar ar do que arrebenta, do que arrebata, do que maltrata, do que às vezes mata... É preciso AR para viver a vida, com o que ela nos dá, ou com o que nos damos dela...
Escutar-se é tomar fôlego para que seja possível continuar a desejar, e colocar o corpo em experiências de novos e renovados investimentos diários. É desejar para além do que as fantasias possam aprisionar.
Por fim, posso dizer que escutar-se a partir do vazio, dos silêncios, no “entre palavras”, nas não palavras com a escuta, é um trabalho artesanal das próprias histórias.
Como nos disse Lacan, “A arte de escutar equivale quase à de bem dizer." (Livro XI)

